sábado, 9 de outubro de 2010

Gosto de visitar blogs. Adorooo. E não só leio os textos, como também os comentários. As vezes, o comentário é tão ou mais bonito que o próprio texto.
Não é o caso deste que vou postar, porque o texto é maravilhoso, mas o comentário está no mesmo patamar de beleza. Me encantou, me enterneceu.

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O comentário:

 "Deita, menino, tua cabeça no meu ombro.
Se quiseres continuar tocando tua flauta, ouvirei todas as notas e verei todos os risos que dela se elevam aos céus.
Se quiseres chorar, não farei barulho algum, para que possas ouvir o bater forte e compassado de meu coração dizendo que nas lágrimas mais sentidas estão escondidos os acenos de esperança.
Dorme, menino, deixa que o vento brinque com teus cabelos suaves, te beije os olhos e os sonhos; enquanto ressonas, recordarei teus murmúrios, teus pedidos às estrelas quando, numa poça d’água, achavas que as tinhas a escorrer entre os dedos.
Quando acordares será outro tempo e abrindo teus olhos e tua mente, terás tempo suficiente para sentires o sol raiando na tua vontade louca de viver!
Por enquanto, adormece menino; prometo segurar teu balão colorido para que não saia a voar sem destino e também não deixarei que as formigas façam a festa com teu algodão doce porque, sei, o clima não é de festa…
Quero apenas que descanse teu cansaço, tua dor, tua aflição; quem sabe sonhes com uma pipa linda a riscar o espaço, quem sabe sonhes com uma rosa ou com uma nova canção.
Me permitas apenas que eu sorria, na tentativa de que teu sono seja em paz.”

(Isabel Cintra Nepomuceno para o poeta Álvaro Alves de Faria)
Fonte > AQUI

 

O Texto que deu origem ao comentário acima:
Fonte > AQUI

A FESTA DE MARIA CLARA

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Era uma vez um poeta que foi a uma festa de crianças.

Tinha bastante balões coloridos, de muitas cores coloridas de azul, vermelho, amarelo, verde, lilás.

Uma porção de cores coloridas.

Tinha bolo cheio de chantili e uma música bonita de violino.

Era uma vez um poeta que foi numa festa de uma fadinha chamada Maria Clara.

Tinha a Clara Morena, tinha o Luquinha, tinha outro Lucas, e mais outro Lucas, tinha a Rafaela-Rafinha, tinha a Maria Fernanda, tinha a Carol, tinha a Vitória, a Gabriella, a Giovanna, o Nicolas, tinha o João Pedro, tinha o Luis Gustavo, tinha a Gabriela Wood, tinha o Vinícius, tinha outro Vinícius, tinha o Pedro, o Eduardo, o Ricardo, o Enzo, a Bruna, o Arthum, tinha também a Júlia, que ainda está na barriga da mamãe, tinha também o Gustavo, que também está ainda na barriga da mamãe, e tinha ainda a irmã do Luquinha, que ainda não tem nome e que está também na barriga da mamãe…

Tinha também um menino desconhecido de mim. Era um menino triste, mas dançava e tocava flauta.

Tocou músicas antigas que ninguém conhecia, mas eram tão bonitas que todas as pessoas pararam para ouvir.

O menino desconhecido lembrou-se de um escritor chamado Antoine de Saint-Exupéry, que escreveu um livro chamado O Pequeno Príncipe.

Tinha também o pequeno príncipe andando entre as pessoas. Ele assistiu ao filme de Maria Clara, seu nascimento, seus primeiros acenos, seu primeiro sorriso. Ele viu a mamãe de Maria Clara formosa como uma margarida e o papai de Maria Clara orgulhoso como um girassol.

Esse menino desconhecido de mim pensou no escritor francês e começou a pensar no seu livro que ele guarda até hoje num lugar especial de sua alma.

Disse então para si mesmo que o amor verdadeiro nunca se desgasta, porque quanto mais se dá  mais se tem.

Disse também que só se vê bem com o coração, porque os olhos não vêem o essencial.

Pensou ainda que a gente se torna responsável para sempre por aquilo que cativa.

E falou baixinho que num mundo que cada vez mais se parece com um grande deserto, a gente tem sede de encontrar um amigo.

E ainda falou baixinho, mas bem baixinho mesmo, que as crianças devem ser indulgentes com as pessoas grandes.

As pessoas grandes são muito complicadas.

As pessoas grandes não entendem nada.

Depois o menino olhou para o céu e disse dentro de si que todas as estrelas são floridas.

O menino desconhecido de mim tinha duas luas novas no bolso e nove estrelas nas mãos. Tinha também um regador cor-de-rosa e regou as plantas com a água da chuva.

Ele tinha cinco cachorrinhos, quatro borboletas, duas abelhas, uma porção de passarinhos, oito nuvens e uma bolsa cheia de sonhos.

Tinha também uma folha que caiu de uma árvore e ele pegou.

Tocava música com sua flauta, num canto do jardim.

Era uma vez um poeta que foi à festa de uma fadinha chamada Maria Clara.

Tinha uma porção de gente feliz.

Tinha um menino quieto, um menino que sempre foi triste, que tocava música e dizia poemas pequenos dentro do meu coração.

 

Álvaro Alves de Faria é jornalista, poeta e escritor. Formação em Sociologia e Política. Literatura e Língua Portuguesa. Mestrado em Comunicação Social. Autor de mais de 50 livros, entre poesia, romances, ensaios literários e também peças de teatro. Mas é fundamentalmente poeta.
Fonte >>
AQUI

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